Tsunami na Indonésia: deslizamento da lateral de vulcão pode ter causado ondas gigantes
Ninguém
fazia ideia e certamente não houve aviso de que um tsunami estava se
aproximando do Estreito de Sunda, na Indonésia. Pelo menos 222 pessoas morreram
e mais de 800 ficaram feridas quando a onda atingiu a costa do país neste
sábado.
É
claro que todo mundo na região tinha conhecimento do Anak Krakatau, o vulcão
que emergiu no canal marítimo há menos de 100 anos. Porém, as erupções do
vulcão são descritas por especialistas como de baixa escala ou semicontínuas.
Vulcões
têm a capacidade de gerar grandes ondas marítimas. O mecanismo que permite o
fenômeno, como sempre, é um um deslocamento de água de grandes proporções.
No
entanto, diferentemente de um tsunami gerado por um terremoto, no qual o fundo
do mar se desloca para cima e para baixo, aparentemente o que provocou o evento
na Indonésia foi uma espécie de deslizamento de terra durante a erupção do
Krakatau.
Não
está claro se parte da lateral do vulcão entrou em colapso e o material caiu no
mar, empurrando a água à frente, ou se o movimento no flanco provocou uma
rápida queda de sedimentos já embaixo d'água.
A
segunda opção parece ser a mais provável, segundo especialistas ouvidos pela
BBC. Mas o efeito é o mesmo nos dois casos: a coluna de água se movimenta e as
ondas se propagam em direção à costa.
Medidores
de maré no Estreito de Sunda indicaram água alta cerca de meia hora após a
última atividade eruptiva do Anak Krakatau, aproximadamente às 21h de sábado,
em horário local.
O
professor Dan Parson, da Universidade de Hull, no Reino Unido, afirmou que as
laterais dos vulcões, os flancos, são instáveis e podem desmoronar. "Os
flancos são notoriamente instáveis. Me parece que, nesse caso, o deslizamento
para dentro ou já no fundo do mar gerou um tsunami significativo",
explicou à BBC.
"O
Krakatoa original explodiu e se destruiu em 1883 e, desde então, ele tem se
formado novamente bem devagar. À medida que os vulcões se formam, os seus
flancos podem se tornar instáveis e
entrar em colapso mesmo sem nenhuma atividade vulcânica", diz.
Após
o fenômeno de sábado, cientistas começaram a estudar o que pode ter causado o
tsunami. Resultados preliminares sugerem que algo aconteceu no flanco sul do
Krakatau. Nos próximos dias, essa área passará por intenso escrutínio de
especialistas.
Deslizamentos
ou desmoronamentos podem causar tsunamis gigantescos, como foi o caso do evento
ocorrido na Indonésia. Na história geológica, eles foram responsáveis por
grandes desastres.
Em
2017, por exemplo, um deslizamento de rochas causou ondas gigantescas que
atingiram o oeste da Groenlândia. Há ainda suspeita de que um tsunami de
setembro deste ano, que afetou a ilha de Sulawesi, também na Indonésia, tenha
sido, pelo menos em parte, fortalecido pelo movimento em massa de sedimentos,
seja entrando na água da costa ou escorregando em encostas submersas na Baía de
Palu.
Testemunhas
contaram que, neste sábado, as ondas que atingiram o estreito de Sunda tinham
cerca de cinco metros de altura. Mesmo grandes, essas ondas podem se dissipar
rapidamente depois que se afastam de sua fonte.
Uma
das coisas mais desesperadoras em ocasiões como essa é ver vídeos em que
pessoas são flagradas sob total desconhecimento do que está por vir. Ou seja,
no caso da Indonésia, as pessoas não tinham como saber que um tsunami estava
chegando porque não foram "avisadas" por um terremoto anterior. Em
outras ocasiões, tremores de terra funcionam como avisos de que uma onda
gigante pode atingir a costa – e, assim, muitas vezes há tempo para a
evacuação.
Mas,
embora houvesse sismicidade (movimento da terra) relatada por instrumentos, ela
não foi tão grande a ponto de mudar o comportamento das pessoas - daí a
surpresa quando a onda chegou.
"Bóias
de alerta estão posicionadas para avisar sobre tsunamis originados por
terremotos em limites de placas tectônicas submarinas. Mesmo se houvesse uma
bóia ao lado do Anak Krakatau, ele é tão próximo da costa que o tempo para
evacuação teria sido mínimo diante da alta velocidade em que as ondas do
tsunami viajam", observou o professor Dave Rothery, da Universidade Aberta
do Reino Unido.
Segundo
os especialistas, o que um evento como este (e da Baía de Palu, que também
pegou a população desprevenida) nos ensina é que é preciso muito mais pesquisas
sobre os perigos que existem longe do que normalmente já é esperado.
Depois
do tsunami de 2004, quando mais 200 mil pessoas morreram na região do Oceano
Índico, houve um enorme esforço de pesquisa para entender o que são chamados de
terremotos e tsunamis de subducção, área de convergência entre placas
tectônicas. A ciência agora precisa estudar profundamente os problemas mais
amplos da região, como o caso dos vulcões.
Esse
alerta foi tornado público durante o Encontro da União Geofísica dos Estados
Unidos, neste mês, a maior reunião anual de cientistas do mundo.
"O
foco é sempre onde está a luz", disse o professor Hermann Fritz, do
Instituto de Tecnologia da Geórgia, nos Estados Unidos. "O foco tem sido
em Sumatra e Java, nas grandes trincheiras de subducção. Os centros de alerta
também se concentraram nisso, porque tivemos grandes eventos, como o do Japão
em 2011, do Chile em 2010 e de Sumatra em 2004. Estes são todos os eventos
clássicos da zona de subducção, então tudo foi voltado para eles", disse.
(G1)
Postar Comentário