Rejeitos de barragem que rompeu em Minas Gerais ameaçam o Velho Chico
Ambientalistas
ligados ao Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) estão em
alerta quanto à possibilidade de contaminação do Rio São Francisco pela lama de
rejeitos da barragem da mina Córrego do
Feijão, em Brumadinho (MG), e que se rompeu em 25 de janeiro, deixando, até o
momento, 189 mortos.
A
barragem da Vale liberou 13 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério de
ferro no Rio Paraopeba e, segundo a CBHSF, os rejeitos já teriam chegado às
proximidades da Usina Hidrelétrica de Retiro Baixo, entre as cidades de Curvelo
e Pompéu, região central de Minas Gerais.
A
área do reservatório de Retiro Baixo possui 22,5 quilômetros quadrados, com
profundidade máxima de 44 metros e é a última represa antes do reservatório da
Usina Hidrelétrica de Três Marias, a qual verte água diretamente para o Rio São
Francisco.
Gerente
da Retiro Baixo Energética, consórcio responsável pela usina, Lana Beatriz
Oliveira informou ao CORREIO que não pode afirmar, com certeza, se os rejeitos chegaram. “Tem
chovido na região e não podemos afirmar 100% que a lama já chegou, é bem
provável, mas só especialistas para confirmarem isso”, disse.
A
hidrelétrica está situada a, aproximadamente, 300 quilômetros do local onde se
deu o rompimento, e até a área de alagamento da represa da Usina Hidrelétrica
de Três Marias são mais 100 km. Com capacidade para gerar 82 MW de energia,
Retiro Baixo está operando com metade disso, gerando entre 30 e 40 MW.
O
monitoramento do avanço da pluma de sedimentos no rio Paraopeba é feito pela
Agência Nacional de Águas (ANA), em parceria com o Instituto Mineiro de Gestão
das Águas (Igam), a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) e o
Serviço Geológico do Brasil (CPRM).
Relatório
O
relatório de ontem aponta elevação de
turbidez da água do Rio Paraopeba, num ponto a 271 km da barragem I da Vale, em
Brumadinho. Quanto à localização da onda de rejeitos, o boletim aponta “valores
de turbidez mais altos que aqueles apurados no rio antes do rompimento da
barragem, no município de Pompéu”, afirma a ANA.
Para
o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, as membranas de contenção
da lama de rejeitos, colocadas pela Vale “ainda não mostraram sua eficácia”. As
membranas, diz o comitê, “deveriam, pelo menos, reduzir a velocidade de
deslocamento da pluma de rejeitos”, os quais “ocasionaram, inclusive,
mortandade de peixes”.
O
presidente do CBHSF, Anivaldo Miranda,
espera que “a Vale seja obrigada a contratar com celeridade a melhor
tecnologia internacional dada à gravidade dos impactos que a lama está
provocando no Paraopeba com reflexos que, em breve, poderão ser sentidos no Rio
São Francisco.”
Para
Miranda, “não há tempo para estudos demorados das possíveis metodologias a
serem empregadas, e sim a determinação do poder público à empresa Vale para que
adquira essas metodologias e tecnologias, inclusive no mercado internacional”.
O
procurador da República Antonio Arthur Barros Mendes estranha que “fique a
critério da Vale a escolha da tecnologia para contenção e filtragem da lama de
rejeitos que avança no Paraopeba”, e sugeriu “a necessidade de uma atitude mais
proativa do poder público nessa questão.”
Sem
respostas
Procurado
para comentar o caso, o Igam, órgão estadual ambiental mineiro com atuação
semelhante ao Inema na Bahia, não respondeu ao CORREIO, assim como o próprio
Inema, que também tem acompanhado as discussões sobre a possível contaminação
do Rio São Francisco.
O
Ministério Público de Minas Gerais também não respondeu. A ANA tem promovido
reuniões semanais sobre o assunto, junto com órgãos ambientais federais e
estaduais de Minas Gerais e da Bahia. A próxima reunião será na próxima
segunda-feira, dia 11
A
ANA informou ao CORREIO que “solicitou à Vale informações adicionais sobre
ações que a empresa tem tomado para controle da situação e mitigação dos
efeitos sobre a qualidade da água e usuários de recursos hídricos tanto do
reservatório de Três Marias quanto do rio Paraopeba” e “aguarda a resposta da
Vale até 7 de março”.
“A
partir das informações recebidas, novas medidas poderão ser tomadas em
articulação com o Igam”, diz o órgão federal. “Como o Rio Paraopeba é de gestão
estadual por estar completamente localizado em território mineiro, a ANA não
possui interveniência sobre o curso d’água. Cabe ao Igam analisar a qualidade
da água.”
Vale
instalou cinco barreiras no Rio
Paraopeba
Questionada
pelo CORREIO, a Vale não comentou sobre a eficácia das membranas colocadas no
Rio Paraopeba para conter os rejeitos. Declarou que “cinco barreiras
hidráulicas foram instaladas ao longo do Rio Paraopeba para conter os
sedimentos”.
A
empresa diz que “estabeleceu um plano de monitoramento da qualidade das águas,
sedimentos e organismos aquáticos a partir de coletas diárias de amostras em 65
pontos nas bacias dos rios Paraopeba e São Francisco, cujos resultados parciais
vêm sendo compartilhados diariamente com os órgãos competentes”.
Segundo
informou a Vale, moradores e produtores rurais com atividades em 12 municípios
de Minas Gerais “estão recebendo abastecimento de água para consumo humano,
animal e para irrigação”. Até o momento, a Vale diz que disponibilizou um
volume de 20 milhões de litros de água.
A
tragédia
A barragem, localizada a 57 quilômetros de
Belo Horizonte, rompeu-se por volta das 12h20 do dia 25 de janeiro. Um mar de lama tomou conta de
estradas, do rio, do povoado e, sobretudo, da área da Vale, empresa responsável
pela barragem. Como era hora do almoço, muitos funcionários ficaram retidos no
restaurante.
Pela
estimativa do Corpo de Bombeiros de Minas, os trabalhos de resgate de corpos
deverão se estender por três a quatro meses após o rompimento. No último dia
18, foi publicada resolução no Diário Oficial da União por recomendação da
Agência Nacional de Mineração (ANM). O Ministério de Minas e Energia definiu
uma série de medidas de precaução de acidentes nas cerca de mil barragens
existentes no país, começando neste ano e prosseguindo até 2021. (Fonte: Correio24horas)
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