Quase 4 milhões de trabalhadores com ensino superior não têm emprego de alta qualificação
O
Brasil não tem dado conta de absorver todos os trabalhadores que fazem uma graduação
em postos de trabalhos adequados. Hoje, quase 4 milhões de brasileiros que
cursaram faculdade não encontram uma profissão que exija a conclusão do Ensino
Superior.
Isso
significa que essas pessoas estão em vagas de menor qualificação, ou desocupadas
– a taxa de desemprego é de 6% entre a população com ensino superior completo.
Atualmente,
o Brasil tem 18,3 milhões de pessoas que terminaram a faculdade para 14,5
milhões de ocupações com exigência de curso de Ensino Superior. O levantamento
foi realizado pela consultoria iDados, com base nos dados da Pesquisa Nacional
por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua.
O
número de trabalhadores com faculdade começou a superar a quantidade de vagas
disponíveis no primeiro trimestre de 2014, quando a crise econômica começou a
dar os primeiros sinais no país. Ao longo dos últimos anos, com o período
recessivo e a lenta retomada, esse descasamento só aumentou.
"Muita
gente está tendo de trabalhar fora da sua área de formação, está acontecendo um
desencontro", diz Guilherme Hirata, pesquisador do iDados. "É um
problema que tende a se agravar se a morosidade na economia continuar."
Hoje,
o país tem 12,4 milhões de desempregados, de acordo com a última divulgação do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com a crise do mercado
de trabalho e sem espaço no setor privado, muitos brasileiros partiram para o
trabalho por conta própria e para a informalidade.
Formada
em desenho industrial, Lívia Fumie Koreeda, de 34 anos, foi demitida de uma
rede varejista em 2017. Sem emprego formal, decidiu abrir a sua própria empresa
para trabalhar com freelancer. No primeiro ano, chegou a conseguir um
rendimento mensal até superior ao que recebia no emprego anterior.
No
segundo ano como freelancer, no entanto, o quadro mudou. Os rendimentos
passaram a cair e ela passou a atuar como tatuadora. "A partir do segundo
ano e meio é que a renda foi diminuindo e, então, tive de rever meu
posicionamento e escolhas de como atuar no mercado", diz.
Hoje,
Livia ganha menos do que recebia no emprego com carteira assinada. Da renda
mensal, 70% ainda vem dos trabalhos que realiza na área de desenho industrial,
e o restante tem como origem o que ganha como tatuadora. Nos próximos anos, o
objetivo dela é inverter essa relação.
A
piora na qualidade do emprego traz uma série de consequências para a economia
brasileira. Ela tem um impacto crucial na produtividade do país, por exemplo. O
indicador é considerado fundamental para a melhora da atividade econômica e da
renda da população brasileira.
Nos
últimos anos, no entanto, com o emprego formal em queda, a produtividade
brasileira está estagnada porque milhões de trabalhadores tiveram de recorrer a
bicos e a trabalhos por conta própria para conseguir alguma renda. Com isso,
passaram a agregar menos valor para a economia.
"O
Brasil não tem criado ocupações sem setores dinâmicos há muito tempo. Então, há
uma dificuldade para que as pessoas que se formam em profissões altamente
qualificadas encontrem uma vaga equivalente", afirma o professor titular
da Cátedra Ruth Cardoso no Insper, Naercio Menezes.
Embora
os dados sejam negativos, cursar uma faculdade ainda é bastante vantajoso no
país. Um trabalhador com mais anos de estudo sempre vai ter vantagem numa
disputa por emprego, mesmo que a vaga não exija uma elevada qualificação.
"Mesmo que o desemprego esteja afetando várias classes, ele ainda é menor
entre quem tem ensino superior completo", afirma Naercio.
No
Brasil, a taxa de desemprego é de 6% entre a população que tem ensino superior
completo, de acordo com Naercio. Ela sobe para 14% no grupo que só cursou até o
Ensino Médio. G1 Bahia.
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