Bahia: Mais da metade dos casos de feminicídio seguem com suspeitos foragidos
Mulheres foram mortas pelos companheiros na Bahia; suspeitos seguem foragidos — Foto: Montagem/G1 |
Primeiro
dia de 2020, 7h30 da quarta-feira (1°) e o corpo da jovem Adriele Souza
Ribeiro, de 21 anos, foi encontrado na Rua Castelo Branco, no Parque Verde 1,
em Camaçari, região metropolitana de Salvador.
Conforme
a polícia, o suspeito de cometer o crime é o companheiro dela, Marcos Vinicius
Morais Oliveira, que fugiu do local e permanece foragido mais de três meses
depois do crime.
Quatro
dias depois do corpo de Adriele ser achado, Tatiane da Silva Jesus, de 27 anos,
foi morta a facadas, no município de São Gonçalo dos Campos, a cerca de 100
quilômetros de Salvador. O suspeito de cometer o crime também é o
ex-companheiro da vítima e ele segue foragido.
Os
casos de Adriele Ribeiro e Tatiane Jesus foram os primeiros registrados no
estado pelo G1 neste ano. Eles se assemelham a muitos outros noticiados quase
todos os dias.
Adriele Souza Ribeiro, de 21 anos, foi morta na cidade de Camaçari e companheiro é suspeito de cometer crime — Foto: Reprodução/redes sociais |
Segundo
a Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA), sete casos de feminicídio
foram registrados em janeiro deste ano. Dois deles aconteceram na região
metropolitana de Salvador e os outros cinco em cidades do interior. Desses, ao
menos quatro suspeitos seguem foragidos da Justiça.
A
SSP ainda não divulgou os números do mês de fevereiro.
Sem
respostas
Entre
os casos de cidades do interior em janeiro estão os de Silvia Nunes Santos e
Ludmila Aragão Campos. As duas foram mortas pelos companheiros, que estão
foragidos.
Silvia
Santos, de 31 anos, morreu após ser esfaqueada dentro de casa em Feira de
Santana, cidade a cerca de 100 quilômetros de Salvador. O crime aconteceu no
dia 26 de janeiro após uma discussão entre a vítima e o autor do crime, o
companheiro dela, que fugiu do local.
Ludmila Campos Araújo foi morta e teve o corpo carbonizado — Foto: Reprodução/TV Bahia |
No
dia 30 de janeiro, Ludmila Aragão, de 41 anos, teve o corpo encontrado
carbonizado dentro de um carro em São Sebastião do Passé, cidade da região
metropolitana de Salvador. O suspeito de matar a empreendedora é o namorado
dela, Charles Adamo Jesus de Araújo. Ele já teve prisão preventiva decretada
pela Justiça e é considerado foragido.
Helena
Aragão, tia de Ludmila, conta que os dias após a morte da sobrinha têm sido
difíceis. A família da vítima pede justiça.
"Estamos
aguardando na justiça de Deus e na justiça de homem. Ele [ex-namorado de
Ludmila] não vai ficar escondido o tempo inteiro, vai ter uma dia que ele vai
ter que aparecer", disse.
Ludmila
e Charles namoraram por sete meses e tinham se separado há cerca de dois meses.
A tia da vítima conta que não tinha percebido um comportamento agressivo nele.
"Ele
não demonstrava ser essa pessoa tão violenta, que chegaria a matá-la, carbonizá-la,
colocar fogo na casa e no carro dela. Acho que nem ela esperaria que ele
chegasse a fazer o que fez", lamentou.
Números
na Bahia
A
lei de feminicídio foi sancionada pela então presidente Dilma Rousseff, em
março de 2015, em cerimônia no Palácio do Planalto. De lá para cá, já se
passaram cinco anos, mas muitos casos na Bahia permanecessem sem respostas.
Conforme
o Monitor da Violência, uma parceria do G1 com o Núcleo de Estudos da Violência
da USP e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o Brasil teve um aumento de
7,3% nos casos de feminicídio em 2019 em comparação com 2018. São 1.314
mulheres mortas pelo fato de serem mulheres – uma a cada 7 horas, em média.
No
dia 13 de janeiro, a Secretaria de Segurança Pública (SSP-BA) divulgou que o
número de feminicídios na Bahia cresceu 32,9% em 2019, quando foram registrados
101 casos em todo o estado. Em 2018, o órgão já tinha registrado outros 76
crimes na tipificação.
Por
intermédio da Operação Ronda Maria da Penha, segundo a SSP, 76 prisões foram
feitas até o mês de novembro de 2019, durante 24 mil rondas ostensivas. O órgão
disse que os policiais fizeram 10.462 fiscalizações de medidas protetivas.
O
que mudou com a lei do feminicídio?
A
lei do feminicídio aumentou a pena para quem mata mulheres por razões de
gênero. O texto também prevê pena maior para mortes decorrentes de violência
doméstica e para os casos em que a mulher fosse assassinada estando grávida.
É
considerada questão de gênero quando o crime envolve violência doméstica e
familiar ou menosprezo ou discriminação à condição de mulher. Após ser
sancionado, o feminicídio passou a ser um agravante do crime de homicídio, além
de ser classificado como crime hediondo.
Com
o aumento da pena, o crime, que antes era considerado como homicídio simples e
tinha pena de prisão que variava de 6 a 20 anos, passou a ter pena de 12 a 30
anos.
Alguns
casos em 2019
Em
novembro do ano passado, a estudante Elitânia de Souza da Hora foi morta a
tiros pelo ex-companheiro, na cidade de Cachoeira, recôncavo da Bahia. A vítima
já havia prestado queixa contra o ex-namorado por agressões e tinha uma medida
protetiva, que determinava o afastamento dele, porém o suspeito descumpriu a decisão.
A
primeira audiência de instrução do caso aconteceu no dia 13 de fevereiro. Cerca
de 30 pessoas, entre amigos e familiares de Elitânia, levaram cartazes e blusas
com a foto da vítima e pediram justiça.
“A
minha expectativa é de que ele [suspeito] pague pelo que fez. Eu peço justiça,
minha filha não merecia ter um fim desses”, disse Maritânia de Souza, mãe da
vítima.
Elitânia de Souza da Hora foi morta a tiros a caminho de casa após deixar aula na Bahia — Foto: Reprodução/Facebook |
No
dia 20 de outubro, a vítima Suse Bonfim Oliveira, de 50 anos, foi morta a
facadas no bairro de Paripe. O suspeito é o ex-marido, José Rocha, que foi
preso dois dias após o crime.
No
dia 3 de novembro, em Dias D' Ávila, na região metropolitana de Salvador, a
cabeleireira Ana Cristina Santos, de 31 anos, foi morta a tiros pelo
ex-namorado, que era PM e cometeu suicídio após o crime.
No
dia 20 do mesmo mês, a estudante Rafaela Gomes, de 27 anos, foi encontrada
morta em um lixão desativado da cidade de Irecê. Segundo a polícia, ela foi
assassinada a mando do fisioterapeuta Alfredo Victor de Oliveira Mattos, na
qual ela tinha um relacionamento.
Também
em 30 de novembro, a vítima Edna Alves de Souza foi morta a facadas, em
Camaçari, na região metropolitana de Salvador. O suspeito é o ex-namorado que
chegou a ser preso, mas após passar por audiência de custódia, responde em
liberdade.
No
dia 9 de dezembro, a vítima Nara Silva Assis foi morta a tiros pelo companheiro
Manuel Santos Silva, no bairro de Itapuã. Segundo informações iniciais, o
suspeito teria se matado logo após o crime. (G1 Bahia)
Suse Bonfim foi morta a facadas no bairro de Paripe — Foto: Reprodução/Redes Sociais |
Rafaela Gomes de Souza, de 27 anos, ficou desaparecida por quatro dias e foi queimada viva em Irecê, na Bahia — Foto: Reprodução/TV São Francisco |
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