Ibotirama-BA: 'Se destacou em todas as funções que exerceu', diz tenente sobre PM morta
Quase
oito anos como Policial Militar na cidade de Ibotirama, no oeste da Bahia,
fizeram a soldado Sylvia Rafaella, de 38 anos, ser querida por colegas de
trabalho e moradores do município. Três dias após ela ter sido morta pelo
ex-marido, a cidade continua de luto.
Colega
de Rafaella há seis anos, o tenente Virgílio Oliveira Souza revelou que os
policiais da 28ª Companhia Independente de Polícia Militar (CIPM/Ibotirama)
ficaram muito abalados com a perda da policial. Ele disse que, na unidade, os
policiais lembram da colega como a pessoa que "se destacava em todos os
setores que atuava".
"Ela
chegou em novembro de 2012. Parte da família é de Bom Jesus da Lapa e outra de
Juazeiro, mas ela veio de Salvador. Eu cheguei em 2014 e ficamos amigos. Ela trabalhava
no nosso corpo administrativo. Além de ser assessora de imprensa, cuidava
almoxarifado, manutenção das viaturas e, por onde passou, se destacou em todas
as funções que exerceu. Ela era muito atuante em nossas campanhas e ações
sociais", destacou Virgílio.
Como
assessora na CIPM, Rafaella atuava em toda parte de comunicação da companhia,
inclusive das redes sociais, área que já tinha bastante familiaridade. Ela era
"digital influencer". Até a tarde de segunda-feira (5), dia do crime,
a conta dela no Instagram tinha mais de 67 mil seguidores. Depois da
repercussão da morte, o número subiu para mais de 90 mil.
Outro
assunto que era pauta para a policial era justamente a violência contra a
mulher. Segundo o tenente Virgílio, ela ajudou a dar início às discussões sobre
o tema no município.
"Aos
poucos, esses conceitos vão chegando. Conceito de empoderamento feminino,
sororidade, ela vinha falando sobre o assunto. Ela já se posicionava nesse
sentido e, ao mesmo tempo que se posicionava, ela sofria isso", diz.
Rafaella
foi morta pelo ex-marido, Edson Salvador Ferreira de Carvalho, de 33 anos, que
também era PM. Edson cometeu suicídio após assassinar a policial.
Em
agosto deste ano, Sylvia Rafaella fez uma postagem nas redes sociais destacando
o empoderamento feminino e o papel dos homens na construção de um ambiente de mais
igualdade com as mulheres.
"Homens,
leiam! Igualdade, liberdade, sororidade e representatividade, é assim que se
identifica uma princesa hoje em dia. Vocês homens, também precisam colaborar
para construir a igualdade de participação de ambos os gêneros, apoiando nossas
decisões e nos enxergando como parceiras, tanto no ambiente profissional quanto
no pessoal", escreveu.
'Exemplar em todos os
aspectos'
Ainda ao relembrar a Rafaella policial, o colega e amigo, tenente Virgílio, detalhou as preferências de trabalho da colega e ressaltou a facilidade da PM em se adaptar às atividades.
"Sempre
gostou de operacional [policiamento nas ruas], apesar de ser do corpo
administrativo. Frequentemente, nosso corpo administrativo é colocado no
operacional. Ela fazia policiamento, trabalhava em eventos especiais. Não era
só o perfil, sempre atendeu as expectativas de qualquer emprego policial. E ela
gostava da atividade, praticava tiro, não se acomodava, procurava
aperfeiçoamento. Era exemplar em todo os aspectos”.
A
soldado, segundo o amigo, era uma pessoa tranquila, amiga de todos e uma mãe
dedicada.
"Ela
vivia para as filhas", destacou o tenente Virgílio. Rafaella, deixou duas
filhas, uma de 12 anos e outra de 3. A mais nova é fruto do relacionamento com
o ex-marido que era PM, e a mais velha é de outro relacionamento. As duas
moravam com ela e estavam na casa quando a mãe foi morta.
Após
ao crime, moradores de Ibotirama fizeram uma homenagem para a PM.
"Eu
nunca vi algo do tipo e acredito que nunca teve isso aqui, mas tivemos uma
manifestação espontânea na cidade. As pessoas vieram na porta do quartel, foi
necessário abrir a porta do quartel. Foi realizado um culto. As pessoas
gostavam muito dela. Aqui no trabalho, ela sempre teve a frente dos projetos,
das obras sociais praticadas pela 28ª [CIPM]. As ações onde ela se envolvia, a
comunidade se envolvia muito também, ela 'chamava' as pessoas. Ela sempre foi o
rosto das campanhas, agregava alcance nas campanhas”, destaca o tenente
Virgílio.
Separação e medida
protetiva
Rafaella
e Edson estavam separados. O delegado que investiga o caso, Genivaldo
Rodrigues, suspeita que o ex-marido não aceitava o fim do relacionamento.
Segundo
Rodrigues, as investigações apontam que ele estaria se reaproximando de Sylvia
Rafaella por causa da guarda da filha.
A polícia encontrou a moto de Edson Salvador na garagem da casa da soldado, o que pode indicar que ela o deixou entrar no imóvel. Em julho deste ano, Edson já havia sido preso em flagrante por agredir Sylvia Rafaella, que tinha uma medida protetiva contra ele. Apesar da medida, Sylvia Rafaella tornou-se mais uma vítima de feminicídio na Bahia. (Fonte: G1 Bahia)
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