Luto na TV: Morre aos 87 anos a atriz Nicette Bruno, mais uma vítima do Covid-19 no Brasil
A
atriz Nicette Bruno morreu na manhã deste domingo (20), aos 87 anos. Ela estava
internada com Covid-19 na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) da Casa de Saúde
São José, no Humaitá, Zona Sul do Rio. De acordo com o boletim médico divulgado
neste domingo (20), o estado de saúde de Nicette “era considerado muito grave”.
Ela estava sedada e dependente de ventilação mecânica.
A
informação da morte foi confirmada pela hospital por volta das 13h20. De acordo
com a Casa de Saúde São José ela morreu por “complicações decorrentes da
Covid-19”. “A Casa de Saúde São José informa que a atriz Nicette Bruno, que
estava internada no hospital desde 26 de novembro de 2020, faleceu hoje, às
11h40, devido a complicações decorrentes da Covid-19. O hospital se solidariza
com a família neste momento”, diz a nota de divulgação do hospital.
A
filha de Nicette Bruno, a também atriz Beth Goulart, fez uma corrente de oração
nas redes sociais para a recuperação da mãe. Na´última publicação, ela deixou
um recado para seus seguidores e afirmou que “a fé nos fortalece. “Vamos orar
pela melhora dela, pela cura dela. E, neste momento, aproveite para orar para
você também e sua família. Para que você encontre as soluções necessárias para
qualquer obstáculo e situação difícil que está vivendo. A fé nos fortalece em
qualquer situação”, diz Beth em vídeo.
Relembre trajetória
Nicette
Xavier Miessa nasceu em Niterói (RJ), no dia 7 de janeiro de 1933. Começou a
carreira ainda pequena, aos 4 anos, em um programa infantil na Rádio Guanabara.
Ela dizia que até por isso resolveu adotar o sobrenome da mãe, Eleonor Bruno
Xavier, de família com tradição artística. Com cerca de nove anos de idade, a
jovem tomou gosto pelo teatro ao ingressar no grupo da Associação Cristã de
Moços (ACM). Depois disso, passou pelo Teatro Universitário e pelo Teatro do
Estudante, criado pelo ator Paschoal Carlos Magno. Aos 14 anos, já era atriz
profissional na Companhia Dulcina-Odilon, da atriz Dulcina de Morais, na qual
estreou na peça “A filha de Iório”. Pela atuação como Ornela, recebeu prêmio
como atriz revelação da Associação Brasileira de Críticas Teatrais.
A
paixão pelo teatro também teve reflexo na vida pessoal. Aos 19 anos, conheceu
Paulo Goulart, com quem compartilhou quase 60 anos de casamento, ao contracenar
com o ator na peça “Senhorita Minha Mãe”, no Teatro de Alumínio, futuro Paço
Municipal, em São Paulo. Os dois se casaram dois anos depois, em 1954, e
ficaram juntos até a morte de Paulo, em 2014. Juntos, tiveram três filhos que
seguiram a carreira dos pais: Paulo Goulart Filho, Bárbara Bruno e Beth
Goulart. “Eu e Paulo tínhamos uma afinidade cênica muito grande. Tanto que nos
conhecemos em cena, né?”, disse a atriz. “Trabalhar juntos era muito bom,
porque tínhamos a mesma seriedade, sabíamos separar a nossa relação. Quando
estávamos em cena, éramos personagens, não a nossa individualidade.”
O
casal também fundou em 1953 a companhia Teatro Íntimo de Nicette Bruno, que
teve participação de nomes como Tônia Carrero e Walmor Chagas. Pouco tempo
antes, começou também sua carreira na televisão. Em 1950, com a estreia da TV
Tupi, participou de recitais e de teleteatros. “Tudo isso era a época de
televisão ao vivo, não havia ainda o videoteipe. Nós fazíamos televisão como
fazíamos teatro. Era um teatro televisionado”, afirmou Nicette. “Com o
videoteipe, começou-se a se criar uma nova linguagem de atuação em televisão.”
Na emissora, atuou na primeira adaptação do “Sítio do Picapau Amarelo”, exibida
entre 1952 e 1962. Anos depois, estrelaria uma segunda versão da obra de
Monteiro Lobato, produzida pela Globo entre 2001 e 2004, como Dona Benta. “O
diretor Roberto Talma queria que a Dona Benta tivesse uma identificação com a
criança de hoje, mas preservando a essência da personagem”, contou sobre a
atuação.
“Achei
muito interessante a ideia de ela se comunicar com o Pedrinho via internet, ao
mesmo tempo dizendo ao neto: ‘Olha, tem tempo que você não me escreve uma carta
ou um bilhete. Não devemos nos comunicar só por meio do computador. A emoção da
escrita é muito grande, e eu quero sentir essa sensação’. Fiquei conhecida pelo
público como Dona Benta.” Após trabalho na TV Continental com Paulo Goulart,
estreou em sua primeira novela com “Os fantoches”, em 1967, na TV Excelsior.
Voltou então à Tupi para grandes sucessos, como “Meu pé de laranja lima”
(1970), “Éramos seis” (1977) e “Como salvar meu casamento” (1979) – inacabada,
a novela foi a última da extinta emissora. Nicette foi para a Globo em 1981
após convite do diretor e ator Fabio Sabag para fazer parte do elenco do
seriado “Obrigado, doutor” como a freira Júlia, auxiliar do protagonista
interpretado por Francisco Cuoco. Na emissora, sua primeira novela foi “Sétimo
Sentido” (1982), de Janete Clair. Na obra, deu vida a Sara Mendes, mãe da
paranormal de Regina Duarte. Depois, esteve em “Louco Amor” (1983), de Gilberto
Braga, na qual interpretava a cozinheira Isolda.
“Era
uma personagem interessantíssima, que guardava o segredo da novela. Foi um
trabalho muito contido. Só no fim é que a personagem tinha uma grande cena, na
qual se esclarecia o grande mistério da história”, disse sobre o trabalho. Ao
longo dos anos, integrou elencos de novelas como “Selva de Pedra” (1986), “Rainha
da Sucata” (1990) e “Mulheres de areia” (1993). Em 1997, interpretou sua
primeira vilã em novelas da Globo, a malvada Úrsula, em “O amor está no ar”.
Depois de anos no novo “Sítio do Picapau Amarelo”, voltou a novelas em 2005
como a Ofélia de “Alma Gêmea”, de Walcyr Carrasco. Depois, esteve em outra obra
do autor, “Sete pecados” (2007), como Juju, grande amor do personagem de Ary
Fontoura. Nos últimos anos, passou por novelas como “A vida da gente” (2011),
“Salve Jorge” (2012), “Joia Rara” (2013), “I love Paraisópolis” (2015) e “Pega
Pega” (2017). Em 2020, foi homenageada na versão da Globo de “Éramos seis” ao
interpretar madre Joana, uma freira que na reta final encontrava Lola (Gloria
Pires), personagem que deu vida na original da TV Tupi. Mesmo com o sucesso na
televisão, a atriz nunca deixou o teatro, e integrou a maior parte dos
principais grupos do país, recebeu prêmios e foi celebrada. (Do G1)
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