Bahia: Caminhoneiros relatam estar há dias aguardando para descarregar carretas em fábrica da Ford
Cerca
de 70 caminhoneiros estão há mais de três dias na porta da fábrica da Ford em
Camaçari, região metropolitana de Salvador, aguardando para descarregar
materiais na empresa. Segundo os caminhoneiros, o número deve crescer, porque
outras carretas continuam chegando ao local.
Na
segunda-feira (11), a Ford anunciou que encerrará a produção de veículos em
suas fábricas no Brasil.
"Desde
segunda está tudo fechado, nada funciona. Falaram que a gente ia conseguir
descarregar ontem, e agora já mudou para segunda. A comida está acabando, e a
gente está doido para ir embora", falou um trabalhador, que não quis se
identificar.
A
reportagem entrou em contato com a empresa que, através de nota, afirmou que
"está informando aos seus fornecedores que os caminhões que estão parados
na fábrica ou a caminho deverão retornar aos respectivos fornecedores, e essas
questões serão tratadas diretamente pela Ford com cada empresa".
O
caminhoneiro é morador de Minas Gerais, casado e tem uma filha de 8 anos. Ele
contou que nunca demorou tanto tempo para retornar de uma viagem.
"Minha
mulher ligou para saber como estou, e minha menina está chorando com saudade.
Eu nunca demorei tanto tempo assim. Geralmente esse serviço é rápido. A gente
chega, descarrega e vai embora", contou.
O
homem contou que saiu de Minas Gerais, pegou a carga em São Paulo e seguiu para
a Bahia. Ainda segundo ele, a empresa para qual trabalha fornece peças para a
Ford.
"A
empresa [de São Paulo] entra em contato com a Ford, eles falam algo, mas não
colocam em prática. As cargas já estão pagas. A gente só carrega [a carreta] depois
que a Ford paga", afirmou.
Fechamento da Ford
Segundo
o prefeito de Camaçari, a cidade vai terá cerca de 10% de perda na arrecadação
de receitas após o encerramento das atividades da fábrica Ford no Brasil.
Em
entrevista ao G1, Elinaldo Araújo contou que a cidade, que tem arrecadação
anual de cerca de R$ 1,3 bilhão em impostos, perdeu R$ 30 milhões do Imposto
sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS) e mais R$ 100 milhões do Imposto
sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), da receita líquida com o
fechamento da montadora de veículos.
“Esse
ano já perdemos cerca de R$ 30 milhões e a partir do ano que vem cerca de R$
130 milhões. O município tem uma receita anual de R$ 1,3 bilhão e vai perder R$
130 milhões, vai perder mais de 10% da capacidade de arrecadar. Sendo que a
receita era de recurso próprio e o R$ 1,3 bilhão era toda a receita. São
receitas do Fundeb, do SUS, que juntas dão esse total”, disse o prefeito de
Camaçari.
Funcionários
da montadora na Bahia realizam protestos na terça e quarta-feira, após o
anúncio do encerramento das atividades.
Segundo
o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, o fechamento da Ford causará a
perda de emprego de 12 mil trabalhadores diretos e mais de 60 mil indiretos. No
entanto, a Ford alega que serão cinco mil empregos afetados.
"Nós
temos um acordo coletivo aqui, em que empresas parceiras de autopeças produzem
nas mesmas condições como trabalhador direto Ford. Então só somando essas
empresas são oito mil, mais quatro mil trabalhadores de empresas satélites que
fornecem diretamente para a Ford", disse.
"São
12 mil trabalhadores diretos, e para cada trabalhador direto demitido, são
cinco trabalhadores indiretos. Estou falando de quase 60 mil trabalhadores
indiretos que perdem seus empregos e 12 mil diretos. São 72 mil
trabalhadores", acrescentou. (Do G1/BA)
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