Sudoeste da Bahia: Família denuncia estudante investigado por comandar esquema de pirâmide
Uma
família baiana também denunciou Henrique Sepulveda, investigado por comandar um
esquema de pirâmide em Jequié, no sudoeste do estado. Ele é estudante de
medicina e suspeito de causar prejuízos de mais de R$ 7 milhões a ao menos 150
pessoas.
Por
medo de represálias, os denunciantes pediram que o G1 omitisse seus nomes. Uma
das vítimas, uma mulher, contou que Henrique se aproximou da família por meio
dos filhos, através de amigos em comum, há cerca de um ano e meio.
"Ele
e a namorada são amigos de uma amiga da minha filha. Desde o primeiro dia, ele
falava do estudo de medicina, mas falava que trabalhava com investimento. Toda
vez que saíam juntos, era a mesma conversa. Ficava insistindo a meu filho para
que ele apresentasse o trabalho dele ao pai, mas meu filho desconversava e
dizia que o pai não ia se interessar".
A
mulher conta que Henrique insistiu na história por cerca de oito meses, e chegou
a dizer que ministrava cursos para quem queria trabalhar com investimentos
também.
"Ele
insistiu tanto, que a gente acabou chamando ele para escutar sobre as
aplicações. Ele veio na minha casa, trouxe até um computador para criar um ar
de credibilidade. Mostrou uma aplicação que seria da conta de um tio dele, que
teria aplicado R$ 500 mil. Mostrou valores de ganho, e insistiu que era comum
familiares dele aplicarem".
"Ele
explicou várias vezes como funcionava. Eu perguntei a ele sobre o rendimento, mas
também perguntei sobre o risco, que era a minha a maior preocupação. Ele disse
que risco de perda era de 1% por dia, isso se chegasse a perder. Mas disse que
no dia seguinte recuperava fácil, então acreditamos".
As
vítimas contam ainda que Henrique alertava que poderiam ganhar mais em um mês e
menos em outro, mas que ele sempre garantia os ganhos.
"Ele
transparecia credibilidade, mostrava números. Dizia que o Ibovespa ficava
maluco, mas que ele sabia o horário de alta, então ele só aplicava naquele
horário. Ele realmente nos convenceu. No primeiro mês, foi investimos um valor,
no outro mês outro valor. Nós temos os recibos de valores encaminhados".
"No
primeiro mês de rendimento desse investimento, o dinheiro entrou na data que
ele disse. Mas nunca entrou valor que foi combinado com ele. No segundo mês, o
dinheiro do rendimento já entrou atrasado. Ele alegou que era um problema da
plataforma. No terceiro mês, chamamos ele para conversar".
Nessa
conversa, a família questionou o motivo dos valores incertos de retorno dos
investimentos, já que Henrique teria garantido os valores de retorno.
"Ele
disse que era mercado mesmo, que era muita coisa envolvida e aí o mercado cai.
Disse que tudo interferia, Brasília e pandemia, mas sempre garantindo que ia
melhorar. Ele sempre garantia. E isso foi passando, o dinheiro chegando sempre
com atrasos".
Em
agosto, Henrique parou de depositar o dinheiro de rendimento para a família.
Desconfiado, o marido da mulher ligou para o suposto investidor e questionou a
ele sobre a falta de credibilidade com os clientes, e pediu para ver o valor em
conta.
O
suspeito do golpe então gravou um vídeo e encaminhou para a família, alegando
que o investimento deles já tinha virado mais de R$ 3 milhões em lucro.
"Nos
acendeu um alerta. Aí aconteceu que no dia 26 [de agosto], outro investidor –
que também vinha cobrando ele – descobriu as armações e divulgou tudo em rede
social. Ele expôs tudo, até TED [transferência eletrônica] falso que o Henrique
fazia. Aí a história tomou uma proporção enorme e chegou no ouvido de outras
pessoas, que também investiram com ele".
"Muita
gente passou a registra queixa contra o Henrique. O estranho é que, até então,
a plataforma estava aberta e ele não passava dinheiro para ninguém. No
depoimento à polícia, ele disse que perdeu todo o dinheiro".
Depois
de ter sido exposto pelos clientes, Henrique passou a dizer às pessoas que a
história era falsa e depois de um tempo parou de respondê-los.
"No
início, a resposta era a mesma para todos: 'Estou fazendo levantamento, fiquei
tranquilo'. Depois, ele passou a dizer: 'Estou sendo orientado a não
conversar'. Se a pessoa diz que não tem nada de errado, que levantamento vai
fazer? É contraditório. Eu não acredito que ele perdeu esse dinheiro".
Questionada
pelo G1 se foi orientada por Henrique a chamar novas pessoas para participarem
do esquema de pirâmide, ela confirmou. No entanto, contou que não sabia que se
tratava de um golpe, e afirmou que não chamou e nem passou os dados de nenhuma
outra pessoa para o investigado.
Para
deixar o esquema de pirâmide financeira com aparência de legalidade, Henrique
criou um suposto programa de indicações, que premiava com valores em dinheiro
quem levasse outras pessoas.
"Ele
perguntou uma vez se a gente tinha alguém que quisesse investir também, mas
claro que eu não indiquei ninguém. Uma coisa é mexer no meu dinheiro, outra no
dinheiro das outras pessoas. Eu não aconselhei ninguém. Ele chegou a gravar
áudio dizendo que o que era a empresa, como funcionava, para eu repassar, mas
não fiz. Ele também pediu contatos de pessoas, e eu também não mandei".
"Ele
tem muita lábia. Conseguiu fazer com que meu filho trouxesse ele aqui. Ficou
enchendo o saco do meu marido, se oferecendo para sair com a gente, para ganhar
credibilidade e nos convencer. Hoje, a gente tem noção de que ele queria estar
no meio de mais pessoas, para arranjar mais gente. Meus filhos estão se
sentindo culpados".
O
G1 não conseguiu o contato da defesa de Henrique. Ele já prestou depoimento à
polícia e deve ser ouvido novamente. Os clientes lesados nas negociações também
estão sendo ouvidos, à medida que os casos estão sendo registrados.
Henrique
pode responder por estelionato, crimes contra a economia popular, contra o
mercado de capitais, contra a ordem econômica e contra o Sistema Financeiro
Nacional. (G1 Bahia)
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