Queimadas na Amazônia avançam e se tornam preocupação mundial
A
preocupação com o avanço das queimadas na Floresta Amazônica ultrapassou as
fronteiras nacionais para se tornar um dos temas de maior interesse do mundo. E
o presidente Jair Bolsonaro voltou a motivar protestos de ambientalistas. Mais
uma vez, sem apresentar provas, ele insistiu em responsabilizar organizações
não governamentais pelos focos de incêndio que se multiplicam na região.
Foi
de novo na saída do Palácio da Alvorada, logo pela manhã. O presidente Jair
Bolsonaro voltou a acusar as ONGs pelas queimadas na Amazônia, novamente sem
apresentar provas.
“As
ONGs perderam dinheiro com o dinheiro que vinha da Noruega e da Alemanha para
cá. Estão desempregados. Têm que fazer o quê? Tentar me derrubar, tentar me
derrubar é o que sobra a eles, mais nada além
disso”.
O
presidente mencionou a existência de um vídeo.
“Numa
das imagens, uma pessoa de carro está queimando a rodovia do lado todinho. O
fogo é exatamente da mesma altura. Dá para reparar o fogo da mesma altura, um
quilômetro. Típico de queimadas. Feito como? Um cara com uma bicicleta ou
motocicleta, uma vara e uma câmara, queimando, pingando aquilo na beira da
pista. Típico desse aí”.
O
JN pediu esse vídeo para o Ministério do Meio Ambiente, que não deu resposta.
Em
seguida, na entrevista, o presidente reconheceu que não há provas contra as
ONGs.
“Não
se tem prova disso, meu Deus do céu. Ninguém escreve isso: ‘vou queimar lá’.
Não existe isso. Se você não pegar em flagrante quem está queimando e buscar
quem mandou fazer isso, o que está acontecendo é um crime, é um crime que está
acontecendo. Mais ainda: o Ministério da Justiça pode mandar 40 homens. Dá para
entender? Quarenta homens para combater incêndios. Dá para entender? Não tem
recursos com esse caos. Chegou no caos”.
O
presidente também disse que há outros suspeitos. Perguntado se podem ser
fazendeiros também ele disse:
“Pode,
pode ser fazendeiro, pode, todo mundo é suspeito. Mas a maior suspeita vem de
ONGs”.
Sem
citar nomes, o presidente voltou a criticar os governadores dos estados da Amazônia.
Na quarta-feira (21), Bolsonaro disse que eles estariam sendo coniventes com as
queimadas.
O
governador do Amapá, Waldez Góes, do PDT, que preside o Consórcio Interestadual
de Desenvolvimento Sustentável da Amazônia Legal, disse que é preciso unir
esforços para combater o problema e que especulações sem provas não podem ser
feitas.
“É
importante uma união de esforços entre o governo federal e os governos
estaduais e até mesmo a iniciativa privada, sociedade civil organizada para
combater tanto o desmatamento quanto a questão das queimadas. Essas
especulações, de certa forma, nem o governador nem o ministro pode fazer sem o
devido aferimento. Então, se o governo federal tem provas disso, ele tem que
colocar logo de pronto essas provas, senão vira um debate que ganha um campo
mais político de divergências, de conflito, do que solução do problema”,
afirmou Góes.
A
líder do Cidadania no Senado, Eliziane Gama, criticou as repetidas declarações
sem provas do presidente.
“O
presidente acaba procurando inimigos imaginários, acusando ONGs, no meu
entendimento, de uma forma leviana, sem necessariamente partir para uma ação
mais concreta, pedir, por exemplo, inquérito na Polícia Federal, provocar a
investigação. Naturalmente que, se temos culpados e criminosos, eles precisam
ser penalizados”.
As
declarações de Bolsonaro foram duramente rebatidas por ambientalistas, que se
dizem alarmados com os novos ataques do presidente sem a apresentação de
provas. Eles criticam também a falta de clareza da política ambiental do
governo e o afrouxamento na fiscalização.
“Já
que ele não podia negar que as fumaças estavam no ar, ele procurou um culpado e
culpou justamente aquelas organizações que estão trabalhando para lutar pela
conservação da floresta e jamais para degradar a floresta. Essas queimadas são
uma consequência de uma redução dramática na fiscalização. O governo,
infelizmente, vem sinalizando que vai flexibilizar a legislação e que vai
deixar de fiscalizar. Isso foi um sinal muito forte. Digamos que foi um
rastilho num barril de pólvora”, afirmou João Paulo Capobianco, vice-presidente
do Instituto Democracia e Sustentabilidade.
Nas
últimas 48 horas foram 1.373 focos de queimadas na Amazônia, mais da metade dos
registros em todo o país.
Um
estudo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia mostra a relação direta
entre a derrubada da floresta e as queimadas.
Os
dez municípios da região com mais registros de focos de incêndio são também os
que mais desmataram. São Félix do Xingu está entre eles. Os outros são: Apuí
(AM); Altamira (PA); Porto Velho (RO); Caracaraí (RR); Novo Progresso (PA);
Lábrea (AM); Colniza (MT); Novo Aripuanã (AM); e Itaituba (PA).
“Nós
tivemos alguns meses atrás a indicação do Inpe de que tivemos um aumento do
desmatamento nos meses de junho, julho e agosto em relação ao ano passado, e
agora nós tivemos também os dados do Inpe indicando que houve um aumento de 80%
dos focos de incêndio. Então, essas são coisas correlacionadas. O incêndio, a
queima da floresta, é uma forma de abrir novas áreas, portanto, ampliar o
desmatamento”, disse André Guimarães, diretor-executivo do Instituto de
Pesquisa Ambiental da Amazônia.
As
queimadas se estendem pela maior parte da Amazônia Legal, que corresponde a
mais de 60% do território brasileiro. Engloba a área total do Acre, Amapá,
Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins, Mato Grosso e parte do estado do
Maranhão.
Palmas
amanheceu tomada por uma fumaça branca e densa. Cuiabá está coberta de fumaça.
O problema também se repete em outras regiões do estado.
No
campo os prejuízos se acumulam. No Pará uma das áreas atingidas é o Parque dos
Campos Ferruginosos. O incêndio começou numa fazenda e chegou ao parque.
O
céu da capital do Acre, Rio Branco, costuma ser azul, mas nos últimos dias está
cinza.
Apesar
dos números e das imagens provocadas pelas queimadas, o ministro das Relações
Exteriores, Ernesto Araújo, disse que o Brasil é vítima de uma campanha com
informações ambientais falsas.
“O
Brasil especificamente está sendo alvo de uma campanha completamente deslocada,
equivocada, de ataques em relação à questão ambiental. Infelizmente existem
algumas forças que resistem a isso e usam essas falsidades ambientais para nos
atacar injustamente”.
O
presidente da Comissão de Meio Ambiente da Câmara, Rodrigo Agostinho (PSB-SP),
cobrou ações do governo.
“É
lamentável. Nós precisamos de ação. A floresta está queimando, o desmatamento
está muito intenso. Nós precisamos que as equipes de fiscalização possam atuar,
nós precisamos de uma ação concentrada do governo. É hora de agir e não hora de
ficar encontrando subterfúgios. É realmente muito triste que a gente tenha
chegado nesse momento. O Brasil vai pagar um preço muito caro por estar agindo
com irresponsabilidade nesse caso”.
Depois
de ouvir reclamações dos possíveis prejuízos ao agronegócio, o presidente da
Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse que vai criar uma comissão para tratar do
aumento das queimadas. O deputado afirmou que pretende discutir as questões
relativas à Amazônia com parlamentos europeus e que abordou esse assunto com o
presidente Jair Bolsonaro.
“Sentamos
ontem longamente. Fomos discutir alguns projetos, fomos discutir a
possibilidade. Marcamos, eles marcaram uma audiência na embaixada da
Grã-Bretanha, depois vamos marcar algumas visitas, se necessário for. Alguns
parlamentos na Europa para mostrar que o parlamento brasileiro, em diálogo com
o governo, em nenhum momento pretende aprovar leis que flexibilizem a
preservação de um patrimônio que talvez seja um patrimônio mais importante que
o brasil tenha, que é o meio ambiente”. Por Jornal Nacional
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