Bahia: Moradores cobram explicações sobre descoberta de cratera 'gigante'
Uma
das histórias acompanhadas pelo G1 Bahia ao longo de 10 anos de história foi a
formação de uma cratera na Ilha de Matarandiba, há quase três anos. Em maio de
2020, os moradores de Vera Cruz receberam a informação de que a cavidade tinha
crescido 20 metros em um ano. Atualmente, o buraco parece está estabilizado
(cresceu apenas um metro de comprimento), mas a falta de respostas sobre a causa
do buraco ainda preocupa.
"A
gente pede resultados dos estudos. Todo mês cobramos os últimos resultados.
Eles têm o prazo até junho e ficaram de passar até junho, mas todo mês, toda
vez que a gente fala com a empresa, a gente cobra os resultados e como é que
está a situação", disse Elisângela Lopes, moradora da região e conselheira
da Associação Comunitária de Matarandiba (Ascoma).
Há
um ano, uma das reclamações dos moradores era a falta de informação dos órgãos
e da empresa Dow Química, responsável pela área onde o buraco apareceu. A
situação mudou, a Ascoma tem realizado reuniões mensais para saber atualização
do tamanho da cratera.
"Todo
mês a gente está tendo uma reunião com a empresa para falar sobre a evolução. A
última informação que a gente teve foi de que ela se estabilizou em comprimento
e largura. A profundidade diminuiu, porque à medida que ela vai caindo, ela vai
estabilizando o fundo", disse.
Nesta
quinta-feira (1°), o Conselho Consultivo de Matarandiba (CCM) vai se reunir com
a Dow Química para saber as novidades relacionadas ao mês de março.
"No
início foi muito assustador e agora queremos saber o que causou, se foi uma
causa natural, se foi uma ação do homem. A gente está preocupado em saber o que
causou essa erosão", questionou Elisângela Lopes.
"Não
pode mesmo cair no esquecimento e a gente não deixa".
A
cratera, que fica a 1 km da vila de pescadores de Matarandiba, em Vera Cruz, na
Ilha de Itaparica, foi descoberta em maio de 2018 e tinha 46 metros de
profundidade, 69 metros de comprimento e 29 metros de largura, na ocasião. O
primeiro aumento na estrutura foi divulgado em janeiro de 2019, quando cresceu
quase quatro metros.
Até
maio de 2020, última medição divulgada até então ao G1 pela Dow Química, o
buraco tinha 110 metros de comprimento, além de 47,4 metros de largura e 32,7
metros de profundidade. No entanto, houve um "leve" crescimento no
comprimento e largura e uma redução na profundidade.
De
acordo com a empresa, as medidas mais atualizadas são: 111 metros de
comprimento, 48,9 metros de largura e 24,4 metros de profundidade. Apesar da
situação, por meio de nota, a multinacional garantiu que a comunidade não corre
perigo e que adotou tecnologias de monitoramento na área. [Confira nota na
íntegra no final da matéria]
Um
inquérito civil público aberto pelo Ministério Público Federal na Bahia (MPF)
apura o surgimento do fenômeno, chamado sinkhole. Em perícia técnica, foi
averiguado que a Dow adotou medidas para a segurança da população local.
Conforme
a Dow Química, desde a descoberta do sinkhole, a empresa já investiu mais de R$
6 milhões nos estudos e em tecnologias de monitoramento em tempo real.
Em
2019, o MPF chegou a debater com representantes da Dow e integrantes do
Instituto Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema) o possível
aparecimento de outras crateras que pudessem oferecer risco à população e ao
meio ambiente na região, além do aumento da cavidade.
Na
ocasião, a Dow apresentou estudos que apontaram que não há risco para a
população da vila, ou na área de operação da multinacional.
O que diz a Dow Química?
Em
nota, a Dow Química informou que as análises para a descoberta das possíveis
causas do fenômeno geológico seguem em andamento. A empresa alega que todos os
estudos concluídos por ela e pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM) reafirmam
a segurança da comunidade, do acesso à vila e das áreas de operação atual da
empresa.
Segundo
a empresa, painéis consultivos comunitários foram instituídos para discutir
temas de relevância para as comunidades e prover atualizações sobre a atuação
da companhia nas regiões. As reuniões são realizadas periodicamente com a
comunidade de Matarandiba.
A
companhia revelou que também criou, desde a descoberta do sinkhole, um grupo
para contato permanente com os moradores da ilha, por meio de um aplicativo de
mensagens, para estabelecer um canal aberto e direto com a empresa.
Afirmou
também que, desde a descoberta do sinkhole, a Dow utiliza tecnologias de
monitoramento de ponta que oferecem informações em tempo real dos movimentos do
solo na área e são capazes de antecipar qualquer evento que possa trazer risco
à Comunidade e seus empregados. São elas:
Dados
de satélite de alta precisão - esta tecnologia permite monitorar e recuperar a
história da movimentação do solo em toda a região da ilha com precisão
milimétrica. Com este monitoramento, é possível identificar qualquer variação
no solo da região. Está em operação desde 26 de junho de 2018, sem nenhuma
alteração identificada.
Microssísmica
– microssensores instalados para monitorar continuamente qualquer movimento e
qualquer possibilidade de novas ocorrências de erosões. A capacidade de
cobertura de cada equipamento atinge um raio de 4 km, o que faz com que o conjunto
dos equipamentos cubra toda a ilha de Matarandiba. O sistema está em operação
desde 23 de agosto de 2018, sem nenhuma atividade anormal no solo identificada
até o momento.
Além
disso, pontuou que o acesso ao local segue interditado por meio de barreiras de
segurança. Na mais recente medição, constatou-se que a cratera tem as medidas
de 111 metros de comprimento, 48,9 metros de largura e 24,4 metros de
profundidade. O aumento do comprimento e largura e redução da profundidade é
prevista e é característica deste fenômeno geológico.
Informou também que a tendência deve seguir até a completa estabilização do terreno. Que, na base mais larga, o vazio subterrâneo conta com 112 metros de comprimento, oito metros a menos que o constatado em maio de 2020. As medidas se encontram estáveis desde agosto do ano passado, mas ainda não é possível prever quando se estabilizará, uma vez que depende de uma série de fatores geológicos. (G1/BA)
Postar Comentário