Bahia: Testemunha diz que viu sobrinho e tio serem entregues a homens armados após tortura em supermercado
Um
testemunha, que preferiu não revelar a identidade, contou em entrevista à TV
Bahia, que ouviu Bruno Barros e Yan Barros, tio e sobrinho, serem torturados
por um segurança, em uma área do supermercado Atakarejo, em Salvador, e depois
viu eles serem entregues para homens armados. Horas depois, a dupla foi achada
morta com sinais de tortura.
"Eu
estava no momento que o 'prevenção' [segurança] e o gerente acusou [sic] os
dois rapazes de ter furtado dentro da loja, essa situação toda dentro da loja,
e foi muito triste, muito feio porque já que pegaram os dois, pegaram o que ele
disse que roubou, era para ligar para a polícia, né", disse a testemunha.
"Eles
fizeram ao contrário, pegaram, fizeram aquela coisa toda, tiraram os rapazes da
loja, levaram para uma parte que é restrita deles [mercado], só de
funcionários, e aí eu ouvi muitos gritos, eu ouvi muitos gritos, como se
estivessem agredindo os dois rapazes. Muito, muito, muito mesmo".
Segundo
a testemunha, ela viu que Yan e Bruno, depois de serem agredidos, foram
entregues a várias pessoas armadas e os dois homens pediam para que não
deixassem que o grupo levasse eles.
"Isso
não se deve fazer com nenhum, com ninguém, com ser humano nenhum.
Independentemente da índole do rapaz, dos dois rapazes, entendeu? E quando eu
estava saindo, quando eu estava saindo, né, em seguida, eu vi muitas pessoas
armadas, umas 10 a 20 pessoas armadas e vi o portão abrindo, e os dois rapazes
pedindo por favor para não deixar levarem eles", revelou.
De
acordo com a testemunha, mesmo com o pedido de desculpas, Yan Barros e Bruno
Barros foram entregues ao grupo armado.
"Pedindo
desculpas, e mesmo assim eles pegaram, abriram o portão e deixou o pessoal
levar eles lá. O pessoal que estava armado, né, se é que vocês me entendem.
Muito triste, muito triste", contou.
A
família dos dois homens relata que um deles enviou áudios pedindo dinheiro para
pagar carnes que eles teriam furtado de um supermercado.
'Minha
filha chama por ele e não sei o que dizer', diz companheira de homem morto após
furto em supermercado
No
final da manhã desta sexta-feira, parentes e amigos deles fizeram uma
manifestação em Fazenda Coutos, onde eles moravam. Logo depois, eles foram até
a unidade do supermercado Atacadão Atakarejo, que fica no mesmo bairro.
O
grupo também entrou no supermercado e com cartazes fizeram um protesto.
Manifestantes
protestam dentro de supermercado em Salvador após mortes de tio e sobrinho
Manifestantes
protestam dentro de supermercado em Salvador após mortes de tio e sobrinho
Em
nota, a Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social da
Bahia (SJDHDS) repudiou veementemente o caso.
O
órgão afirmou que se for confirmado pela investigação que o crime aconteceu
após o furto de carne, a possível ligação entre representantes da rede de
supermercados e traficantes de drogas também será investigada.
A
SJDHDS afirmou que acompanha o caso junto com organizações de defesa dos
direitos humanos, Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa da
Bahia e pelo Conselho Estadual de Direitos Humanos.
"O
supermercado Atakarejo deve uma explicação à sociedade. O hediondo crime já foi
levado ao Conselho Estadual de Direitos Humanos que, juntamente com a SJDHDS,
acompanhará todo o processo até a total elucidação do crime", disse em um
trecho da nota.
Por
meio de nota, o Atakarejo informou que é cumpridor da legislação vigente, e
atua rigorosamente comprometido com a obediência às normas legais, e que não
compactua com qualquer ato em desacordo com a lei.
Disse
também que os fatos questionados envolvem segurança pública e que certamente
serão investigados e conduzidos pela autoridade pública competente.
Entenda o caso
Na
noite de segunda-feira (26), dois homens foram mortos na localidade da
Polêmica, em Salvador. De acordo com a Polícia Civil, eles foram torturados e
atingidos por disparos de arma de fogo. À época, a polícia informou que a
motivação do crime estava relacionada ao tráfico de drogas.
Um
dia depois, na terça-feira (27), eles foram identificados como Bruno Barros e
Yan Barros. Na quinta-feira (29), a mãe de Yan, Elaine Costa Silva, revelou que
ele foi morto após ter sido flagrado pelos seguranças do hipermercado Atakarejo
por furtar carne no estabelecimento.
Segundo
ela, o tio de Yan, Bruno, que também foi morto, enviou áudios a uma amiga
informando o que tinha acontecido e pedindo ajuda para não ser entregue aos
traficantes do Nordeste de Amaralina.
Em
nota, o Ministério Público da Bahia informou que ao tomar conhecimento do fato
envolvendo Bruno Barros e Yan Barros, adotou as providências cabíveis nesta
fase preliminar de apuração, autuando uma notícia de crime e encaminhando ao
Núcleo do Júri da Capital.
Já
a Polícia Militar informou que a 40ª CIPM não foi acionada para atender a
ocorrência. No entanto, assim que tomou conhecimento, por meio de populares, de
que teria ocorrido de um possível furto no estabelecimento comercial no bairro
de Amaralina, a unidade deslocou uma equipe até o local. Quando chegou, funcionários
não confirmaram o fato.
A Polícia Civil informou que algumas testemunhas foram ouvidas na Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa e as investigações estão avançadas. Segundo o órgão, já há indicativo de autoria. As equipes da unidade realizam diligências e mais detalhes não podem ser divulgados para não interferir no andamento das apurações. (Fonte: G1 Bahia)
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