Cantora buscou PM 'transtornada' duas horas antes de ser morta em MG
"Bastante
transtornada" e com "dificuldades em falar por estar chorando
bastante", a cantora e influenciadora Lívvia Bicalho, de 37 anos, procurou
ajuda da Polícia Militar (PM) menos de duas horas antes de ser encontrada morta,
na última quarta-feira (21).
Foi
exatamente às 11h39 daquele dia que a polícia recebeu a comunicação desse
pedido de ajuda, e registrou um primeiro boletim de ocorrência, que só foi
encerrado às 12h32. Às 13h, a PM voltou a ser acionada, desta vez com a
comunicação do assassinato de Lívvia, encontrada ao lado do corpo de seu
ex-namorado Rafael Ribeiro, suspeito de atirar nela e se matar em seguida.
Neste
sábado (24), o G1 teve acesso aos detalhes dos dois boletins de ocorrência.
Filha fala que mãe estava sendo
perseguida
Na
manhã daquela quarta-feira, Lívvia se dirigiu ao presídio de João Monlevade e
ligou para o 190, dizendo que queria fazer uma denúncia contra o ex-namorado.
"Perguntada
de que se tratava tal denúncia, ela apresentou dificuldades em falar por estar
chorando bastante", diz o texto do boletim de ocorrência.
Ela
foi orientada, então, a ir até o quartel da polícia. Lá, os militares ligaram
para a filha de Lívvia, Júlia Bicalho, de 19 anos, que disse que a mãe estava
"sendo perseguida" por Rafael.
'45 horas para retirar tudo'
Lívvia
disse aos policiais que Rafael não tinha agredido ela, mas que "tinha medo
de retornar até a casa para pegar suas coisas, já que ele teria dado um prazo
de 45 horas para que ela retirasse tudo".
Nesse
momento, segundo o boletim, a polícia se ofereceu para ir com ela ao
apartamento, mas ela disse que só conseguiu caminhão para cinco dias depois e
que iria para a casa de uma amiga.
Volta ao apartamento
A
polícia, então, foi até a casa de Rafael Ribeiro para "saber sua versão
dos fatos". "Para surpresa desta guarnição policial, a sra. Lívvia
também se encontrava no apartamento, onde alegou que não teria feito contato
com a Polícia Militar".
Os
dois desceram para falar com a polícia e ela foi questionada sobre ter voltado
para o local, e disse que "mesmo ficando na casa da amiga, tinha que pegar
algumas roupas".
Os
militares perguntaram a Rafael se ela poderia ir retirar suas coisas, ele disse
que sim, e os dois voltaram para dentro do apartamento juntos.
Menos
de duas horas depois, a PM voltou a ser acionada, desta vez com a denúncia de
que dois estampidos de arma de fogo tinham sido ouvidos. Chegando ao local, os
militares encontraram Lívvia caída e Rafael Ribeiro "caído sentado
escorado na parede com uma arma de fogo em uma das mãos". Os dois com
tiros na cabeça, já sem sinais vitais.
Investigações
A
Polícia Civil disse que "trabalha com a hipótese de eventual feminicídio
seguido de suicídio, o que deverá ser confirmado ou não no curso das
investigações".
Na
tarde de quarta, dia do crime, a Polícia Civil informou que esteve no local
para os primeiros levantamentos periciais e que as investigações estão em
andamento. Os corpos foram encaminhados para o Posto Médico Legal, em João
Monlevade por volta das 18h.
Na
manhã de quinta-feira (22), a Polícia Civil informou que está com a investigação
sob sigilo e irá divulgar as informações somente com a conclusão do inquérito.
Os
corpos, encaminhados para o Posto Médico Legal, em João Monlevade, passaram por
exames e foram liberados.
'Estava sofrendo ameaças'
Um
dia antes de a cantora e influenciadora Lívvia Bicalho ser encontrada morta,
outro ex-namorado conversou com ela pelo telefone e ouviu que ela estava sofrendo
ameaças de Rafael Ribeiro.
O
ex-namorado Alan Marmute, de 38 anos, também disse ao G1 que Lívvia já tinha
terminado o relacionamento com Rafael. A última foto em que os dois aparecem
juntos na rede social da influencer é do dia 4 de março. Ela também não seguia
Rafael nas redes sociais, o que indica que tinha rompido com ele.
"Ela
estava sofrendo ameaças do ex-companheiro dela e eu a orientei que procurasse a
delegacia para tentar medida protetiva", conta Marmute, que disse ter
continuado amigo de Lívvia depois que terminaram o relacionamento de quatro
meses, no fim de 2019.
Em
uma das várias conversas pelo telefone, Alan disse que Lívvia comentou que
estava preocupada, falou das ameaças que vinha sofrendo do seu ex-companheiro,
Rafael Ribeiro, de 39, mas não entrou em detalhes sobre essas ameaças.
Ela
também disse a ele queria mudar de João Monlevade, na Região Central de Minas,
para "conquistar uma cidade maior".
"Hoje
a gente sabe que na verdade ela queria se mudar por outros motivos",
acredita Alan.
Ele
diz que sempre vai se lembrar da menina alegre e batalhadora que ela era:
"Uma
das pessoas mais alegres que já conheci. Ela tinha o dom de ajudar, coração
tamanho do mundo e ajudava a todos, famílias e amigos. Muito batalhadora. Assim
que vou me lembrar dela, alegre, cantando e ajudando a galera".
Sepultamento
O
corpo de Lívvia Bicalho foi velado na manhã desta quinta-feira (22) no
cemitério municipal de Nova Era, na Região Central de Minas Gerais, cidade onde
ela nasceu. O enterro foi realizado na parte da tarde.
O
ex- companheiro dela também foi velado nesta quinta-feira, no cemitério Nossa
Senhora da Paz, em Ipatinga, no Vale do Aço.
Lívvia Bicalho tinha mais de 90 mil seguidores nas redes sociais. No ano passado, ela se candidatou ao cargo de vereadora em João Monlevade. (G1)
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