'Ele não está brincando, vai atirar para matar', opina criminóloga Ilana Casoy sobre suspeito de chacina de família no DF
A
busca por Lázaro Barbosa de Souza, de 32 anos, entra no oitavo dia nesta
quarta-feira (15). Ele é suspeito de matar quatro pessoas de uma mesma família
em uma chácara em Ceilândia, no Distrito Federal, no dia 9 de junho. Desde
então, policiais tentam localizá-lo no Entorno do DF, sem sucesso. Enquanto
isso, ele vai deixando uma série de vítimas na região.
A
criminóloga e escritora Ilana Casoy, que escreveu um roteiro sobre o caso de
Suzane von Richtofen e é uma das especialistas em serial killers no país,
ressalta que Lázaro "precisa ser parado".
"Agora
ele é um cara em fuga. Ele não está brincando, claro que ele vai atirar para
matar. Temos que fazer perguntas neste momento, e não dar as respostas."
Chacina
O
suspeito invadiu a casa da família, localizada no Incra 9, no Núcleo Rural Alexandre
Gusmão, na madrugada de 9 de junho. Lá, ele matou o empresário Cláudio Vidal,
de 48 anos, e os dois filhos dele, Gustavo Vidal, de 21, e Carlos Eduardo
Vidal, de 15. Os três foram encontrados com marcas de tiros e facadas.
A
esposa de Cláudio e mãe dos jovens, Cleonice Marques de Andrade, de 43 anos,
foi sequestrada e encontrada morta três dias depois, em um córrego da região.
Após os crimes, Lázaro fugiu para a região entre Cocalzinho e Edilândia, no
Entorno do DF.
Nos
últimos dias, ele fez uma série de assaltos a chácaras na região. Em um dos
crimes, deixou três pessoas baleadas. Na terça, também disparou e atingiu dois
policiais que atuavam nas buscas. Ao todo, 200 agentes de forças de segurança
atuam na operação para prender o suspeito.
Perfil
do criminoso
Os
crimes cometidos por Lázaro chamaram a atenção da criminóloga Ilana Casoy,
autora dos livros "O quinto mandamento" (Arx, 2006), sobre o caso
Richtofen, e "Casos de família" (Darkside, 2016), sobre a morte de
Isabella Nardoni.
Segundo
a especialista, está claro que ele é uma pessoa perigosa. No entanto, para
Ilana, ainda é cedo para traçar um perfil psicológico.
"Ele
é um fugitivo e precisa ser parado, ser preso porque é um cara de alta
periculosidade, de grande experiência e está matando no caminho. Não é hora de
pensar se ele é um serial killer, se teve uma infância traumática ou não, se
ele é frio, psicótico, esquizofrênico, psicopata", diz.
"Ele
pode ser muitas coisas. Ele é um abusador em série? É obvio. Ele tem várias
condenações por estupro. Agora, que tipo de abusador que ele é? Tem vários.
Ainda não sabemos", continua.
Para
a criminóloga, o foco neste momento é a prisão de Lázaro. Após esse momento,
ela ressalta que deve-se montar uma excelente estratégia de interrogatório para
saber, por exemplo, se ele cometeu outros crimes ainda não descobertos pela
polícia.
"É
uma pergunta que ele que vai ter que responder. Teve outros crimes? Outros
corpos que não foram encontrados? Tem vítimas que podem ficar sem resposta,
pessoas que perderam pai, filho, esposa? A única chance de resposta é ele
contando, e a chance é com um bom interrogatório. Que o cara é um homicida, não
resta dúvida. O nosso papel é apoiar as polícias para fazer um bom trabalho tático
e prender o fugitivo", analisa a criminóloga.
Laudo
de 2013
Um
laudo criminológico feito em 2013 sobre Lázaro destacou que ele tem
características de personalidade como "agressividade, ausência de
mecanismos de controle, dependência emocional, impulsividade, instabilidade
emocional, possibilidade de ruptura do equilíbrio, preocupações sexuais e
sentimentos de angústia".
O
documento ainda indica que Lázaro "tinha consciência de sua atitudes"
e que, apesar de "assumi-las e perceber o sofrimento causado em terceiros
(passos importantes no processo de ressocialização), percebe-se que todos os
crimes cometidos estão diretamente relacionados a dependência química, fato do
qual o periciando não tem autocontrole, haja vista uso abusivo de bebida
alcoólica antes de sua reclusão e vício no crack após a prisão".
Outros
crimes
O
inquérito que apura o quádruplo homicídio da família do DF chegou à Justiça na
noite de segunda-feira (14). O documento foi analisado pelo Ministério Público
do DF e Territórios (MPDFT), que solicitou o retorno das investigações à 24ª
Delegacia de Polícia, em Ceilândia. Segundo o MP, o caso está sob segredo de
Justiça.
Segundo
as apurações, antes dos assassinatos em 9 de junho, Lázaro já vinha cometendo
uma série de crimes na região. Confira a linha do tempo do caso:
26
de abril
Lázaro
teria invadido uma casa no Sol Nascente . "Ele arrombou a porta da casa,
trancou pai e filho no quarto e levou a mulher para o matagal, onde estuprou a
vítima", diz a polícia.
17
de maio
Lázaro
fez uma família refém na mesma região (Sol Nascente). Segundo a polícia, ele
ameaçou as vítimas com faca e arma de fogo. Nesse crime, mandou as pessoas
ficarem nuas. E obrigou as mulheres que estavam na casa a servir jantar para
ele.
9
de junho
Triplo
homicídio de Cláudio Vidal, de 48 anos; Gustavo Vidal, de 21; Carlos Eduardo
Vidal, de 15. A mulher, Cleonice Marques de Andrade, de 43 anos, foi
sequestrada pelo suspeito.
10
de junho
Entre
11h e 15h, perto do Incra 9, ele rendeu o proprietário de uma fazenda, a filha
dele e o caseiro. Conforme os policiais, Lázaro passou cerca de 4 horas no local.
11
de junho
Na
madrugada, Lázaro roubou um carro em uma chácara e, segundo a Polícia Militar,
incendiou e abandonou o veículo, em Cocalzinho (GO).
12
de junho
Pela
manhã, as equipes de segurança que procuravam por Cleonice encontraram o corpo
dela no Córrego da Cascalheira, entre a BR-070 e a DF-180. No mesmo dia, já em
Cocalzinho de Goiás, Lázaro atirou em pessoas e nos policiais que buscavam por
ele.
Investigadores
também localizaram dois esconderijos utilizados por Lázaro na região do Incra
9, com colchão, lonas, roupas e garrafas de água.
13
de junho
Lázaro
furtou um carro e o abandonou na BR-070. Depois, segundo a polícia, ele
continuou a fuga, pela mata.
14
de junho
Polícias
do DF e de Goiás fizeram um cerco em 34 propriedades rurais da região e
continuaram as buscas. A Polícia Militar do DF reuniu o Batalhão de
Policiamento de Choque (Patamo), de Rondas Ostensivas Táticas Metropolitanas
(Rotam), do Grupo Tático Operacional (Gtop) e do Batalhão Ambiental. A Polícia
Civil, a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária também participam do cerco.
15
de junho
Segundo
a Secretaria de Segurança Pública de Goiás, um policial foi baleado em Goiás
durante buscas por suspeito. Ele foi atingido com tiro de raspão e atendido em
hospital goiano. (G1/GO)
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