Sertanejo em alerta: Estradas, falta de planejamento e agendas cheias colocam artistas em risco
O
estilo que mais toca no Brasil é o que mais viaja e faz shows. E quanto mais
tempo os sertanejos estão nas estradas, mais riscos. Neste ano, o G1 noticiou
14 acidentes de trânsito com sertanejos ou suas equipes.
"Por
mais que a maioria dos escritórios, principalmente médios e grandes, tenham
sempre cuidado em ter bom ônibus, boas carretas e profissionais qualificados, a
exposição ao risco sempre existe. Quanto mais você precisa se deslocar, mais
você está exposto a isso", explica Dan Rocha, diretor do grupo Chaves,
escritório que administra a carreira do cantor Léo, ex-parceiro de Victor.
O
G1 conversou com ele e outros produtores de empresas do mercado sertanejo.
Quase nenhum quis se identificar nesta reportagem: um indício de que o assunto
ainda é tabu entre eles.
Eles
citaram alguns pontos que podem levar ao aumento dos acidentes:
Alta
demanda de shows sem bom planejamento de logística
Pressa
de voltar para casa para ficar com a família
Serviços
de transporte precários no início de carreira
Estradas
em más condições e cansaço dos motoristas
"Tem
assalto também para roubar equipamento”, diz um dos produtores ouvidos, antes
de relembrar o caso de Henrique e Juliano. A dupla teve a carreta roubada em
2015. "O cavalo do caminhão, até hoje ninguém achou", conta, citando
a cabine do veículo.
Logística sertaneja
"Os
acidentes são causados porque querem fechar vários shows e fazer uma logística
muito louca. Isso é mais sério no sertanejo, porque tem uma demanda grande,
principalmente em algumas épocas do ano. Quando Cristiano Araújo morreu, era
junho, que é um mês que tem muito sertanejo fazendo show", explica uma
assessora de imprensa do mercado sertanejo.
Para
diminuir os riscos diante de uma agenda intensa, existe um planejamento feito
pelos escritórios, que administram as carreiras dos artistas. Os produtores
focam em alguns pontos:
Marcar shows próximos em uma mesma
região
"Ir
para o Nordeste e conseguir fazer todos os shows da sua semana ali, facilita. É
melhor do que você fazer dois shows no Nordeste, depois descer pro Sudeste ou
pro Sul. Isso põe toda a empresa, a equipe e o artista em situações bem
arriscadas", explica Dan.
Trocar de motorista quando viagem é
logo após show
"O
descanso do motorista é uma das coisas que influencia", diz o produtor de
um dos maiores escritórios sertanejos, que prefere não ter seu nome citado.
"O ritmo para ônibus de banda é mais intenso que o de turismo normal. A
gente já tem no mercado motoristas acostumados a esse tipo de ritmo."
Normalmente, o motorista é contratado como parte fixa da equipe.
Contar sempre com um plano B
É
preciso fazer um contrato de equipamento e mão de obra no local do show, caso
necessário. Também tem que checar, antes de qualquer imprevisto, qual o
aeroporto mais próximo em caso de pista fechada. Esses são exemplos do que deve
ser feito para que a equipe não faça "loucuras" se algo der errado.
Cadê a verba do planejamento?
Muitos
artistas não contam com equipe para fazer todo esse planejamento. No início de
carreira, os músicos aceitam todos os shows oferecidos, independentemente das
condições.
“Tem esse risco [de contratar empresas mais
precárias]. Não checam a condição salarial, a condição do veículo, não troca o
pneu que precisa, usa o meia-vida, freio não condicionado", diz um
produtor.
Ele teoriza:
"Quem paga não está dentro do
ônibus e quer economizar, desde a mão de obra até a manutenção. As bandas com
menor orçamento buscam economizar de todos os lados. Pode ser que economize em
segurança."
"Um
artista, quando é muito estourado, quer fazer vários shows em um mês pra ganhar
dinheiro, porque ele está aproveitando o momento. Um artista que não está
estourado está um dia no Pará, no outro dia em Porto Alegre. Isso é outro
problema", compara outra assessora.
Mas por que tantos shows?
São
poucos os artistas que tomam conta de sua própria agenda. A maioria está
“presa” a um escritório, que fica responsável por fechar os shows. Os dois
lados precisam ganhar e, com isso, a agenda fica mais intensa.
"Uns
70%, 75% dos artistas não mandam na carreira. Ficam ali no que o empresário
mandar. Só a partir do momento que ele se torna sócio do projeto, que ele
consegue falar de igual pra igual, fazer limitações, exigências", arrisca
outro produtor ouvido pelo G1.
"Tem artista que não aceita a
dobra, que são dois shows na mesma noite. Quando é iniciante, ele é só mais um
funcionário. Tem que cumprir a agenda. Se for somar transporte aéreo, fretado,
e todos os custos, a conta não fecha com o valor do cachê do show."
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