Nove pessoas morrem pisoteadas em tumulto após ação da Polícia Militar durante baile funk em Paraisópolis-SP
Nove pessoas, sendo uma mulher e
oito homens, morreram pisoteadas durante um baile funk na comunidade de
Paraisópolis, na Zona Sul de São Paulo, na madrugada deste domingo (1º), depois
de uma perseguição policial seguida de tiros, segundo a Polícia Civil. Outras
sete pessoas ficaram feridas.
Ainda de acordo com a polícia,
agentes do 16º Batalhão de Polícia Militar Metropolitano (BPM/M) realizavam uma
Operação Pancadão na comunidade – a segunda maior da cidade, com 100 mil
habitantes – quando foram alvo de tiros disparados por dois homens em uma
motocicleta. A dupla teria fugido em direção ao baile funk ainda atirando, o
que provocou tumulto entre os frequentadores do evento, que tinha cerca de 5
mil pessoas.
No entanto, a mãe de uma adolescente
de 17 anos que estava no local e que foi agredida com uma garrafa disse que os
policiais fizeram uma emboscada para as pessoas que estavam no baile.
A jovem ferida durante a confusão
descreveu o momento em que foi atingida. "Eu não sei o que aconteceu, só
vi correria, e várias viaturas fecharam a gente. Minha amiga caiu, e eu abaixei
pra ajudá-la", afirmou.
"Quando me levantei, um
policial me deu uma garrafada na cabeça. Os policiais falaram que era para
colocar a mão na cabeça."
Segundo a polícia, equipes da Força
Tática, ao chegarem para apoiar a ação em Paraisópolis, levaram pedradas e
garrafadas. Os policiais, então, teriam respondido com munições químicas para
dispersão. Ainda de acordo com informações da polícia, alguém no meio da
multidão disparou um tiro, e houve correria.
Durante a confusão, pessoas foram
pisoteadas. Elas foram levadas em estado grave ao Pronto Socorro do Campo
Limpo. Duas viaturas da PM foram depredadas. O delegado Emiliano da Silva Neto,
do 89º DP, afirmou que todas as vítimas morreram pisoteadas e que ninguém foi
vítima de disparos (leia mais abaixo).
O governador João Doria (PSDB)
lamentou as mortes e pediu "apuração rigorosa" do episódio. O Ouvidor
das Polícias, Benedito Mariano, afirmou que "a PM precisa mudar protocolo".
A diretora-executiva do Instituto
Sou da Paz, Carolina Ricardo, afirmou em entrevista à Globo News que a polícia
tem de prestar contas do que ocorreu "sem medo de assumir um erro caso
tenha havido".
Vídeos que circularam nas redes
sociais mostraram a ação da PM em Paraisópolis na madrugada deste domingo.
De acordo com a Secretaria de
Segurança Pública, a Operação Pancadão tem sido periodicamente realizada em
toda a capital "para garantir o direito de ir e vir do cidadão e impedir a
perturbação do sossego, fiscalizando a emissão ruídos proveniente de
veículos".
Dados de Paraisópolis
- 2ª maior favela de São Paulo e 5ª maior do Brasil
- 10 quilômetros quadrados de área
- 100 mil habitantes
- 21 mil domicílios
- 12 mil moradores analfabetos ou semianalfabetos
- 31% da população é composta por jovens de 15 a 29 anos, portanto mais vulneráveis à carência de emprego e oportunidades
- 42% das famílias têm mulheres como responsáveis
- Renda média de 87% dos chefes de família é de até 3 salários mínimos
- 21% da população que tem emprego atua no comércio local
- Aproximadamente 10 mil comércios locais
- Grande crescimento nos últimos anos
- Grandes empresas ingressando no mercado local
- 12 escolas públicas (estaduais e municipais), uma Escola Técnica Estadual (Etec), um Centro Educacional Unificado (CEU), três unidades básicas de saúde (UBS) e uma unidade de Assistência Médica Ambulatorial (AMA)
Adolescente foi agredida por
policiais, diz mãe
A mãe da adolescente de 17 anos
ferida no baile funk diz que a filha foi agredida por policiais.
"[Minha filha] levou uma
garrafada na cabeça [que partiu] de um policial. Deram [com] um cassetete nas
costas dela. Ela está lúcida e aguardando a tomografia", disse afirmou.
"Quando eu a vi, não a reconheci. Ela estava com o rosto deformado e
perdeu muito sangue. Estava em choque."
A mãe continuou: "É uma rua com
duas ou três saídas. Eles [policiais] fecharam e coagiram. Atiraram com arma de
fogo – não só com bala de borracha. Bateram com cassetete, fora [o uso de]
spray de pimenta. Eles [os frequentadores do baile funk] estavam só
curtindo".
"Os policiais fecharam a rua.
Teve corre-corre, pisoteamento de adolescente. Gás de pimenta, bala de
borracha, e ainda estavam agredindo pessoas. Foi um policial que tacou garrafa
de vidro na minha filha."
Em novembro, uma jovem perdeu a
visão de um dos olhos ao ser atingida por uma bala de borracha da polícia na
dispersão de um baile funk na Zona Leste de São Paulo.
'Muito tiro'
Um jovem de 18 anos que não é
morador de Paraisópolis, mas que costuma frequentar os bailes, disse que viu
muitos adolescentes passando mal e desmaiando por causa das bombas de gás
atiradas pela polícia durante o baile funk da madrugada deste domingo.
"Chegaram atirando em todo
mundo. A gente estava no baile e primeiro veio a bomba. Começaram a cair as
pessoas, passando mal, e a desmaiar, sendo pisoteadas. Ficamos encurralados.
Não tinha para aonde correr, para aonde ir. Muita gente caindo já morta, a
polícia atirou. Muitas pessoas tentavam salvar a própria vida. Vi muito sangue
e escutei bastante barulho de tiro", disse o jovem.
A mãe dele afirmou: "Foi meio
tenso, a polícia queria saber se meu filho estava no baile funk. É uma guerra
ao pobre. Se fosse nos Jardins [bairro de classe alta de SP], a coisa seria nem
diferente. Até a forma da polícia abordar é diferente. O problema não é o funk,
é a cultura da periferia, é o lazer".
Delegado disse que ninguém foi
vítima de disparos
O delegado Emiliano da Silva Neto,
do 89º DP, afirmou que nenhuma das mortes ocorridas no baile funk foi causada
por tiro.
"Policiais militares pararam
duas pessoas em uma moto. Eles entraram onde estava ocorrendo a festa e
continuaram atirando nos policiais. Em decorrência desse tiroteio, houve um
efeito manada, teve uma viela com escadaria, e as pessoas pisotearam umas nas
outras", disse.
"Nove morreram. Todas elas
estão com graves lesões de pisoteio, não tem nada de perfuração ou alguém
atingido por projétil de arma de fogo."
Governador pediu apuração 'rigorosa'
O governador João Doria pediu
"apuração rigorosa" do episódio.
"Lamento profundamente as
mortes ocorridas no baile funk em Paraisópolis nesta noite. Determinei ao
Secretário de Segurança Pública, General Campos, apuração rigorosa dos fatos
para esclarecer quais foram as circunstâncias e responsabilidades deste triste
episódio", escreveu Doria, no Twitter.
Pancadões
Os bailes funks em comunidades de
São Paulo ocorrem de quinta-feira a domingo, até a madrugada, nas zonas Leste,
Sul e Norte da capital paulista.
Reportagem do Bom Dia SP mostrou
como a polícia atua quando é chamada para atender ocorrências nos pancadões.
(Fonte: G1)
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