Bahia: Tio e sobrinho que furtaram carne em supermercado, foram torturados e mortos por facção
Os
corpos encontrados no porta-malas de um carro, com marcas de tortura e de
tiros, nessa segunda-feira (26), já foram identificados. Segundo a polícia, são
de Bruno Barros da Silva, 29 anos, e seu sobrinho, Ian Barros da Silva, 19,
ambos executados e deixados na localidade da Polêmica, em Brotas. Tio e
sobrinho foram pegos após uma acusação de furtarem produtos alimentícios em um
supermercado localizado no bairro de Amaralina. Os familiares dos dois estão
inconformados com as mortes.
Segundo
eles, funcionários não identificados da loja da rede de supermercado Atakadão
Atakarejo foram responsáveis por informar os nomes de Bruno e Ian para
traficantes do Comando da Paz (CP), hoje filial do Comando Vermelho (CV),
dizendo que eles tinham furtado a loja. “Ficamos sabendo que um gerente chamou
os traficantes da área, que botaram os dois na mala de um carro. Se eles
estavam roubando, tinham que chamar a polícia, e não fazer isso”, disse uma das
familiares dos rapazes, enquanto aguardava a liberação dos corpos no Instituto
Médico Legal (IML) Nina Rodrigues. O nome dela será preservado por segurança.
Fotos
que circulam nas redes sociais mostram tio e sobrinho em três momentos. O
primeiro logo após eles terem sido flagrados roubando carne na rede de
supermercado. Os dois estão agachados numa área interna do estabelecimento, ao
lado dos produtos que teriam sido furtados e de um homem, apontado como
segurança da loja. O segundo momento mostra tio e sobrinho sentados numa
escadaria do Boqueirão. As últimas fotos mostram os corpos, ambos com os rostos
deformados por conta dos disparos. Em nota, a Polícia Civil informou que duplo
homicídio é investigado pela 1ª Delegacia de Homicídio (DH/Atlântico), e que já
tem indicativo de quem cometeu o crime. Equipes da unidade realizam rondas na
região para tentar localizar os suspeitos, mas até agora ninguém foi preso.
Furto
Bruno
era pai de uma menina de dois anos e morava na mesma casa que o sobrinho Ian,
no bairro de Fazenda Coutos. Os dois saíram cedo do imóvel, mas não disseram
para onde iam. Por volta das 15h30, chegaram à loja do Atakadão Atakarejo da
Rua Jânio Quadros, em Amaralina. “A família não sabe, de fato, o que fez eles
irem parar no lado de lá. Acreditam que os dois estavam passando pelo local e
pararam para comprar algo, porque todo mundo pode lembrar que precisa de alguma
coisa em casa quando vê um mercado aberto. Acredito que foi isso o que
aconteceu”, contou um amigo da família, que também terá seu nome preservado.
Ele disse ainda que, após a acusação de furto, Bruno e Ian foram levados para
uma área interna da loja e mantidos no local por um segurança.
“Ficamos
sabendo que um gerente manteve contato com os traficantes, que chagaram lá
pouco depois. Eram mais de 10, todos armados, e levaram eles para o Boqueirão.
Lá, deram mais de 30 tiros de metralhadoras, pistolas, escopeta e ainda deram
facadas. Não era para nada disso ter acontecido. Se eles estavam roubando,
chamassem a polícia, quem é responsável pela segurança pública”, lamentou. Os
corpos foram localizados no mesmo dia da morte, nesta segunda-feira (26), pela
Polícia Militar. Guarnições da 26ª Companhia Independente da PM (CIPM/Brotas)
foram acionadas, após denúncia de que havia um carro abandonado no Parque Bela
Vista, Rua Direta da Polêmica, por volta das 17h. No local, os policiais
militares encontraram tio e sobrinho no porta malas do veículo. “A família toda
estava aflita, porque eles não voltaram pra casa. Quando as fotos deles
começaram a circular nas redes sociais, foi um sinal de que algo de ruim havia
acontecido com eles. Soubemos que dois homens foram encontrados mortos dentro
de um carro e a família decidiu vir ao IML”, disse um amigo das vítimas.
Supermercado
A
reportagem esteve nesta manhã na loja do Atakadão Atakarejo de Amaralina. Duas
funcionárias, que não terão seus nomes expostos, confirmaram o ocorrido. “Sim,
aconteceu. Mas não precisavam fazer uma crueldade dessas. Isso foi desumano”,
disse uma. “Eles foram pegos, de fato, furtando, mas teriam que ter chamado a
polícia”, disse outra. Clientes que frequentam o local também recriminaram a
possibilidade de traficantes terem sido chamados para matar os rapazes, “Uma
selvageria. É a minha definição. E temos polícia para quê? Enfeite? Se as
pessoas erram, precisam se acertar com a justiça e não esse absurdo. Fiquei
sabendo disso, mas não sabia que tinha acontecido aqui. Se soubesse antes, nem
viria”, disse uma dona de casa de 53 anos, logo após deixar a loja. Do lado de
fora, a reportagem também ouviu uma diarista de 45 anos. “Isso foi uma
monstruosidade. Os monstros não são só aqueles que fizeram isso, mas também
quem compactua. Espero que a polícia e a direção da loja punam todos”, disse
ela. A reportagem tentou contato com a gerência da loja, que não quis se
manifestar. Por meio da assessoria de comunicação, a rede de supermercado
informou que “o Atakarejo é cumpridor da legislação vigente, e atua
rigorosamente comprometido com a obediência às normas legais. Não compactua com
qualquer ato em desacordo com a lei”. Acrescentou ainda que “especificamente em
relação aos fatos questionados, tratam-se de fatos que envolvem segurança pública
e que certamente serão investigados e conduzidos pela autoridade pública competente”.
(Correio 24Horas)
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