Tristeza em Livramento-BA: Leia a carta de despedida do soldado PM Ricardo Libório, morto nesta segunda-feira
A Polícia Militar da Bahia
está de luto. A morte precoce do PM João Ricardo Moreira Libório chocou os
baianos. O corpo do homem de 26 anos foi encontrado enforcado nessa
segunda-feira (1), no Bairro Estocada, na cidade de Livramento de Nossa
Senhora. Ele trabalhava como policial militar no município desde 2015. Mas, era
morador do Bairro Morada dos Pássaros, em Vitória da Conquista.
Uma carta de despedida,
deixada pelo militar, foi divulgada nesta terça-feira (2). São palavras fortes
e emocionantes de uma pessoa que está passando por um momento difícil e que
precisa te ajuda. Apesar do momento doloroso, Ricardo tenta compartilhar as
coisas boas e significativas que aprendeu na vida durante os 26 anos de idade.
“Peço aos que são calmaria, que cultivem o amor e o perdão, porque nenhuma
mágoa e ódio vale tanto a pena assim” (iReporter)
Leia
a carta na íntegra:
“Espero que compreendam que em cada mente habita um universo
repleto de ideias, que cada escolha sempre trará uma consequência, e tive
certeza daquilo que queria e de tudo que já não suportava. Saibamos reconhecer
que dentre meus sorrisos sempre escondi a verdadeira sensação de insatisfação e
desmazelo, que embora não seja compreensível, tive cansaço e desgaste de erros
que me consumiram por inteiro. Gostaria que as coisas tivessem sido diferentes
e por vezes até tentei, digo isto não por capricho, mas por exaustão. Não
poderei deixar tantas dádivas como tantos que por aqui passaram, mas deixarei
as mágoas de um peito cansado e atordoado pela injustiça que é habitar em uma mente
e um coração tão intenso, e por falar em intensidade, me vejo perdido em meio a
tanta gente rasa que se instalou em minha leviana vida como um parasita que
absorve tudo de benéfico e depois descarta o hospedeiro num sepulcro de solidão
e agonia. Peço perdão aos poucos e próximos que cultivei, saberão que a vida
continua e que onde eu estiver, serei um hóspede para um novo ciclo, embora
acredite que previra o sofrimento para que assim possa estar estabelecido todo
discernimento que o umbral fará e resignará para a colheita esperada. Aos meus
amores, em especial o último que consumi tanto em desespero para que não fosse
desgarrado de seu seio, peço paciência e autoconhecimento para que não hajam
culpas mentais e nem fadigas sentimentais de uma mente resumida em desistência.
Assim eu espero que o tempo leve o que há de levar e cure o que preciso for.
Aos meus familiares, sinto em vos dizer que minha ausência sirva de
reconciliação e proximidade para outros que necessitam. Por fim rogo a Deus que
não me esqueça, ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte. E para os que
muito cansei nessa Terra, peço que me perdoem, que me compreendam, pois desta
vida nada levamos e nada trazemos, sendo assim não é justo tanto julgamento de
uma pessoa digna de pena, misericórdia e perdão. Sabeis que toda inconstância é
resultado de desordem. Como poderia eu organizar tudo se sou tempestade? Peço
aos que são calmaria, que cultivem o amor e o perdão, porque nenhuma mágoa e
ódio vale tanto a pena assim…
Somos instantes e num instante não somos nada.
Fiquem com Deus a adeus!
João Ricardo Moreira
Libório”
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